Felipe Ludovice e Nicola Maniglia percorreram mais de 1.000 km em alto-mar com um veleiro catamarã de 13 pés (cerca de 4 metros) por 10 dias. O trajeto nunca havia sido feito por uma embarcação dessas proporções.

“Aproveitem muito, pois cada travessia é única e muito especial”.

Foi com essa mensagem de celular enviada por Vera, mãe do velejador Nicola Maniglia no momento em que os amigos avistavam Fernando de Noronha, que uma mistura de sentimentos veio à tona.

“Foi uma sensação de dever cumprido, de limite ultrapassado. O mar te proporciona experimentar uma completude que não encontro em nenhum outro lugar”, comenta Felipe Ludovice, fotógrafo e mergulhador.

É fato dizer que o Projeto Noronha 13 pés nasceu do amor de dois velejadores brasileiros pela aventura. Uma viagem desse tipo não poderia ter melhor motivação para acontecer. Após terem feito uma expedição à vela pelo Caribe, Felipe e Nicola queriam realizar um projeto em águas brasileiras. Para isso, o destino escolhido por eles foi o arquipélago de Fernando de Noronha. Um dos lugares mais interessantes e bonitos do país.

Dupla de velejadores faz travessia a Noronha

Disseminação da prática da vela

Com o objetivo de disseminar a prática da vela, enfatizar o caráter sustentável da modalidade e incentivar os amantes do esporte a empreenderem grandes aventuras, os velejadores partiram em uma difícil e emocionante expedição em alto-mar. Todas as atividades eram revezadas pelos dois, como a navegação com o GPS, a comunicação no rádio, os momentos de descanso e o preparo das refeições. No cardápio, barrinhas de cereais, proteínas e carboidratos em gel. Além de um luxo: 1 refeição diária com macarrão e carne enlatada, feita em um fogareiro adaptado.

Noronha 13 pés

Foram 3 anos de planejamento, estudo e dedicação para realizar a missão. Só para a construção e adaptação do barco para águas oceânicas foram 8 meses. Originalmente uma embarcação desse tipo é utilizada para passeios em águas mais tranquilas, como de represas e baías.

Foi depois de muita conversa com Beto Pandiani, velejador referência na área de catamarãs sem cabine, que Antônio Pedro da Costa Filho da Tom & Cat, empresa especializada em fabricação de veleiros, foi o escolhido para a construção do barco, e assim o sonho começou a sair do papel.

Em janeiro de 2018, a expedição conseguiu realizar, com um veleiro tipo catamarã de 13 pés (equivalente a 4 metros de comprimento), sem motor e sem cabine, as travessias de ida e volta do continente até Fernando de Noronha. O veleiro Andorinha, apelidado carinhosamente em homenagem à pequenina ave marinha, saiu de Praia Bela, na Paraíba e desembarcou em Maxaranguape, no Rio Grande do Norte.

Dupla de velejadores faz travessia a Noronha
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Os desafios

Uma travessia desse porte não poderia deixar de ter desafios, como as questões com o mastro e a perda de parte da bagagem:

“Tivemos alguns problemas com o estaiamento (cabos que seguram o mastro). A primeira e a segunda vez que eles arrebentaram, o mastro quase veio abaixo. Ele começou a cair e eu tive de segurar pra impedir, enquanto o Nicola fazia os reparos. Para completar, na manhã do terceiro dia de viagem, percebemos que a bolsa do Nicola com todas as roupas e equipamentos pessoais havia caído no mar durante a noite. Nela estavam também a farmácia principal da expedição e o rádio VHF, o que foi um golpe duro para nós, pois dificultou nossa comunicação”, comenta Felipe.

Para compensar os problemas, a viagem foi presenteada com momentos únicos para os dois velejadores. Como a visita de um agulhão-bandeira, um dos peixes mais cobiçados na pesca oceânica. E a vista do Morro do Pico, o ponto mais alto de Fernando de Noronha. Logo nas primeiras horas da manhã do sexto dia. Imagens que ficarão para sempre na memória.

O mar

Estar em alto-mar não é nenhuma novidade para o velejador Nicola Miniglia. Nascido na Ilha de Tortola, em pleno Caribe, passou seus primeiros 2 anos de vida em um veleiro navegando com os pais, também apaixonados por aventura. Um sentimento que foi rapidamente passado ao filho mais velho do casal.

“Aos 2 anos de idade mudamos para Franca, no interior de São Paulo. Fomos para um sítio da família do meu pai, onde produzíamos tudo o que comíamos. Mesmo ali, a tantos quilômetros da costa, ouvi histórias do mar durante toda a minha infância”, comenta Nicola.

Foi em Franca que Nicola conheceu Felipe, fotógrafo e documentarista que já fotografou Fernando de Noronha em outras oportunidades. Os dois fizeram diversas viagens juntos. Entre elas a Expedição Caribe, que saiu da Flórida, EUA, e foi até as Ilhas Virgens Britânicas. E várias expedições pela costa brasileira a bordo do Endurance, um veleiro de alumínio com 62 pés (20 metros). Que foi construído sob o mesmo projeto de casco do Parati II, do velejador Amyr Klink.

Dupla de velejadores faz travessia a Noronha


 

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