Por Jorge Nasseh
Por Jorge Nasseh

Coluna do Construtor


Parece ironia, mas os barcos que construímos e usamos deveriam ser guardados sempre em lugar seco. Por mais bem construídos que sejam sempre existe algum grau de umidade dentro dos materiais. E não é somente isto. A umidade relativa do ar durante à fabricação é tão nociva quanto a umidade do dia a dia em qual o barco fica exposto. Barcos de madeira sofrem mais, mas os barcos de fibra também estão expostos a problemas semelhantes.

Mantenha em lugar seco 2O trabalho de construção de um barco em fiberglass é extremamente fácil, mas investigar o nível de umidade e a resistência residual de um laminado é uma das coisas mais difíceis que existe. Embora a maior parte dos barcos de boa qualidade tenha boa resistência à umidade, com o passar do tempo podem apresentar problemas. Isso acontece devido a passagem de pequena quantidade de água através do laminado ou mesmo de partes construídas em madeira. Este efeito, associado a variação de temperatura, pode ser fatal.

Laminados de fibra e madeira são higroscópicos. Isso significa que o conteúdo de umidade dentro deles vai oscilar em função da umidade relativa do ar, por conta de sua propriedade de absorver mais ou menos água. Quando a umidade do ar aumenta o teor de umidade da fibra, o teor de umidade da madeira aumenta também. Quando ela diminui, o efeito é o contrário. Esta relação é referida como o “Equilíbrio de Umidade” e pode ser prevista com boa precisão.

Mantenha em lugar seco 3Produtos de boa qualidade também sofrem

Em geral acreditamos que usando um produto de boa qualidade seja possível selar tanto a fibra quanto a madeira de forma definitiva, mas não é assim que funciona. Certamente a taxa de troca de umidade vai diminuir, mas não vai parar. Qualquer material tratado vai expandir ou contrair em uma taxa mais lenta do que um produto virgem. Isso acontece até que chegue a uma posição de equilíbrio entre a umidade interna e a externa do ar. O ideal seria que todos os materiais (fibras, madeira ou compensado) tivessem uma umidade interna de 6-8%. Mas no mundo real estes valores estão sempre acima de 10%. Nos trópicos, onde a umidade é relativamente alta, os valores podem ser superiores a 12 ou 14%.

Verifique a umidade do barco

Se você for comprar um barco usado, ou quiser vender o seu, e pedir uma verificação de umidade, vai se surpreender. Na maioria das vezes a leitura dos medidores vai mostrar alta concentração de umidade e potenciais problemas de delaminação precoce. Ser for necessário algum tipo de reparo ou substituição da parte afetada a situação pode piorar. O reparo pode ser uma boa fração do custo total do barco. Não existe uma solução simples sem uma cirurgia dramática de grandes proporções.

No caso da utilização de madeiras, no casco ou no interior, são altamente porosas e, mesmo revestidas e encapsuladas com resina e fibra de vidro, podem reter grande quantidade de umidade. A estrutura molecular de produtos utilizados na construção de um barco possui grande quantidade de células que podem absorver umidade. Com o efeito da temperatura, comum nas regiões tropicais, estes laminados podem apresentar saturação e delaminação. Esse processo induz uma maior passagem de água e um maior grau de saturação até a falha estrutural com o passar do tempo.

Por mais que pareça estranho, a maioria dos medidores de umidade que usamos foi desenvolvida para a medição de umidade em madeira ou papel. Antes de usar um destes medidores, calibre o valor da leitura para um laminado conhecido e completamente seco. Analise vários pontos e registre o valor de umidade em diferentes condições de temperatura. Assim, terá uma ideia qualitativa do nível de absorção de água no casco. Daí em diante reze para que seu barco esteja seco, pois o custo do reparo não vai compensar o valor do barco.

Veja mais em Canal do Construtor: Como evitar incêndio a bordo.


 

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