Pelas águas do sol nascente ao sol poente. A aventura dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil.

Por Rafaella Malucelli, redação Revista Perfil Náutico

Há 109 anos aportou no porto de Santos o navio responsável pela vinda dos primeiros emigrantes japoneses para o Brasil, o Kasato Maru. Originalmente britânico e batizado de Potosi, o vapor foi uma encomenda da armadora britânica Pacific Steam Navigator Company (PSNC) ao estaleiro Wigham Richardson, próximo ao Porto de Newcastle, no ano de 1899. Com um desenho tradicionalmente britânico, com casa de comando separada da superestrutura central, era um navio destinado a ter capacidade mista. Possuía casco de aço, seis porões de carga, três conveses, duas hélices, única chaminé e maquinário de expansão tríplice.

Antes de chegar às mãos do império japonês, o Kasato Maru ou ainda chamado de Patosi, nem tinha saído do estaleiro britânico e já foi vendido para uma organização Russa chamada de Frota de Voluntários Russos (RVF), que solicitou algumas reformas estruturais para adaptá-lo como transporte de tropas. Rebatizado de Kazan pelos russos, o navio chegou no porto de Odessa com uma capacidade para transportar dois mil homens. Logo foi integrado como navio auxiliar da Frota do Extremo Oriente.

Em 1904 eclode a guerra russo-japonesa pela expansão das esferas de influência no extremo oriente, da qual o Japão sai vitorioso e fica entre as potências mundiais abrindo assim caminho para sua expansão imperialista. Nessa guerra de apenas um ano o então vapor Kazan serve de navio-hospital e naufraga nas rasas águas de Porto Arthur, após um ataque nipônico. Com a ocupação do porto pelas forças japonesas o navio é resgatado do fundo do mar, reformado e passa a servir à Marinha Imperial do Japão com o nome Kasato Maru.

Foi com este nome que o vapor britânico iniciou a sua história como elemento fundamental da imigração japonesa no Brasil. Fretado à armadora Tokyo Kisen para trabalhar na nova linha entre o Japão e a Costa Oeste da América do Sul, o navio Kasato Maru levou ao Porto de Santos, no dia 18 de junho de 1908, 781 japoneses de 165 famílias, dispostas a trabalhar na lavoura. Na época da primeira viagem do navio para o Brasil, a imigração não era permitida pelo império japonês, mas a pressão social e os problemas econômicos que o país enfrentava, forçaram o imperador Meiji rever esta posição e aceitar o processo imigratório como necessário.

Mas a movimentação brasileira a favor da imigração começou antes. A Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, que libertou os escravos, provocou uma séria crise agrícola. Pressionado pelos agricultores, o governo brasileiro que iniciava sua República com o presidente Floriano Peixoto, sancionou a Lei nº97 em 1982 que permitia a vinda de imigrantes ao país para trabalhar na lavoura cafeeira. Dois anos depois, foi assinado o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão, que abriu as primeiras portas para uma relação que ano que vem completa 110 anos.

 

Foi em 06 de novembro de 1907 oficializada a permissão para a primeira viagem do navio Kasato Maru. O contrato foi assinado por Carlos Botelho, secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, e Ryu Misuno, diretor da Companhia Japonesa de Imigração Kokoku. Os primeiros imigrantes partiram no dia 28 de abril de 1908 do Porto de Kobe, seguiram pelo Cabo da Boa Esperança.

 

Depois de 52 dias de viagem, desembarcaram em Santos os primeiros imigrantes que segundo relatos do jornal Correio Paulistano da época, as famílias vieram de doze diferentes províncias do Japão, a grande maioria de Okinawa, Kagoshima e Yamaguchi. Entre os viajantes encontravam-se profissionais como artesãos, artistas e lavradores. A primeira leva de imigrantes japoneses foi encaminhada no mesmo dia que aportaram para trabalhar nas lavouras de café de Alta Sorocabana.

Depois de Kasato Maru, entre 1908 e 1914, seguiram-se outras nove viagens em embarcações diferentes aportando em Santos com mais imigrantes, totalizando cerca de 134 mil novos japoneses que enfrentavam milhas e milhas navegando, trazendo na bagagem a esperança de uma vida melhor no Brasil. Não existia até 1916 uma linha regular entre Brasil e Japão, apenas algumas viagens visando levar imigrantes.

Em 1910 Kasato Maru foi vendido à armadora Osaka Shosen Kaisha (OSK), e sofreu reformas que o possibilitou acomodar um total de 520 passageiros em três diferentes classes. Por iniciativa da OSK foi inaugurada em 1916 uma linha comercial entre Japão e América do Sul na qual Kasato Maru foi o vapor escolhido para inaugurá-la.

Em 1930 o navio que iniciou a história da imigração japonesa no Brasil foi vendido para uma empresa de pesca japonesa, sendo usado como navio-fábrica. Em meados de 1945, Kasato Maru foi afundado no Mar de Okhotsk, durante um ataque aéreo norte-americano na Segunda Guerra Mundial.

Fotos: Museu da Imigração.


 

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