Se para muitos o foco é o ano de 2014, para o velejador Robert Scheidt não. Ele está de olho em 2016

Mundial Alicante 2014 Robert Scheidt
Mundial Alicante 2014 Robert Scheidt

É nesse ano que o atleta vai disputar a sua sexta Olimpíada. Nas outras cinco, ele ganhou medalhas – duas de ouro, duas de prata e uma de bronze – e nessa pretende trazer mais uma para casa.

Atualmente com 40 anos e de volta à categoria Laser, ele diz estar passando um momento diferente, em que já não é tão jovem para a classe, mas apesar disso sente-se bem e em ótimo nível. Não à toa. Scheidt é um dos grandes responsáveis por levar o Brasil a inúmeros pódios mundiais e a fazer os brasileiros conhecerem um pouco mais de esportes náuticos.

O velejador conversou com a Perfil Náutico e contou um pouco mais de sua rotina e de como enxerga o esporte no país. Confira!

Perfil Náutico Na sua infância, você chegou a praticar outro esporte, o tênis. O que pesou na sua escolha pela vela?

Robert Scheidt – No começo até cogitei em jogar profissionalmente, mas seria um tenista medíocre. Joguei quando era menino e ainda jogo, em momentos de lazer. Mas me considero muito melhor na vela, que acabou sendo o meu principal esporte, o que mais amo fazer.

PNSua família já tinha alguma familiaridade com o esporte? Como começou a sua história com a vela?

RS – Meu pai já praticou muitos esportes e fez questão de ensinar vários para os filhos. Meu irmão já foi campeão mundial de pinguim e minha irmã também velejou e pratica outros esportes. Comecei a velejar aos nove anos, no Optimist. Tínhamos um grupo de crianças muito unido, com muitos amigos, começando juntos e eu ia velejar pela farra e não pela competição, Tinha um espírito de brincadeira e velejava para fazer uma atividade recreativa. Aos poucos começamos a correr regatas.

PNTer ganhado um prêmio logo no início de sua carreira, aos 11 anos, foi um propulsor para que começasse a levar o esporte a sério?

RS – Sem dúvida! Venci aos 11 anos o Sul-Americano de Optimist, em Algarrobo, no Chile e no ano seguinte fui bi. Daí tomei gosto pela coisa, comecei a levar a vela como profissão, e o tênis virou apenas um hobby.

PNQuem foi seu grande incentivador?

RS – A minha família foi quem mais me incentivou, desde os meus tempos de criança, no Optimist, na escolinha de vela, até chegar ao Laser. Principalmente meu pai.

PNVocê já praticou iatismo em três categorias (Laser, Star e Oceano). Quais as dificuldades que encontrou em cada uma?

RS – Dificuldades existem em todas as classes e variam muito de acordo com o momento. Essa é a graça da vela. Cada classe pede características diferentes do atleta. A Star é muito técnica, agrega conhecimento sobre vela, sobre mastro e o entrosamento com o proeiro é essencial. A Laser, por exemplo, é mais física, exige muita hora de voo, muito preparo físico. É mais simples e depende mais da intuição do velejador. E, como costumo dizer, um velejador de Laser está preparado para qualquer outra classe. Minha prioridade sempre foi a vela olímpica, mas participei de algumas regatas de oceano. Fui tático do veleiro Mitsubishi, em 2000, função em que precisava tomar decisões, como na Laser. Mas, enquanto na Laser tenho que decidir tudo sozinho e muito rápido, na vela de oceano podemos dividir as responsabilidades entre os tripulantes.

PN Qual sua rotina de treinos? Tem alguma específica para épocas de competições?

RS – Hoje, na volta à Laser, tenho feito um trabalho forte de musculação e fisioterapia, focado mais em prevenir lesões, não sentir dor. Porque o momento é diferente, eu já não sou tão jovem para essa classe. Mas estou velejando em ótimo nível, me sinto muito bem. Agora, na época de uma competição, é importante saber as condições de vento e de corrente do dia pra decidir as velas e regulagem e discutir com o técnico. Chegar com 1h, 1h30 de antecedência na raia e testar qual a tendência do vento. A partir daí já começa a formar um plano para a regata. Já largamos na regata imaginando o que fazer para chegar à frente na primeira boia.

PNO que mais gosta de fazer enquanto não está treinando?

RS – Sou um cara simples. Gosto de brincar com meus filhos, ficar com a família, passear. Também costumo pedalar ou jogar tênis sempre que posso.

PNSeus filhos também gostam de estar no mar?

RS – Eles ainda são muito pequenos, mas curtem. Já coloquei eles no barco, para experimentar.

PN Você acredita que os brasileiros se identificam com desportos aquáticos?

RS – A vela é pouco divulgada porque o acesso do público é restrito, isso acaba fazendo com que se perca um pouco o interesse. As regatas normalmente são disputadas longe da costa. Normalmente, a gente entra em contato com fãs e torcedores antes e depois das regatas, quando recebemos o incentivo ou os parabéns. Na Olimpíada é diferente, a proximidade com o público é maior, e isso conta muito.

PNComo você vê crescimento da vela no país?

RS – O apoio ao esporte melhorou muito desde que comecei minha jornada olímpica, em 96. Claro que ainda dá para melhorar, usando o exemplo das grandes potências como Grã-Bretanha e Estados Unidos. Mas o COB, além de empresas patrocinadoras e programas de incentivo ao esporte, estão proporcionando algo jamais visto pelos atletas brasileiros em termos de preparação. Hoje temos técnicos, médicos, fisioterapeutas, e toda a logística necessária para a alta performance.

PNCom tantos prêmios em seu histórico, quais seus próximos objetivos?

RS – Quero conquistar a minha sexta medalha olímpica.

PNQual a expectativa para as Olimpíadas de 2016? Realmente vai ser sua última Olimpíada na classe Laser?

RS – Tracei como objetivo deixar a vela olímpica após os jogos do Rio de Janeiro e continuar velejando em classes de barco que exijam menos do corpo e mais da cabeça. Mas não estou pensando em aposentadoria, agora. Quando chegar a hora vou definir o que fazer.

PNGostaria que a classe Star voltasse à competição?

RS – Existe uma chance mínima de a Star retornar à Olimpíada. Caso volte, eu vou avaliar e, provavelmente, retornarei para a classe. Eu me programei para deixar a vela olímpica em 2016, mas a Star seria a única classe na qual eu teria condições de competir até mais tarde, em 2020.

PNQual o conselho que você daria para as pessoas que estão iniciando na vela?

RS – Como foi comigo e com a maioria, sempre se começa como recreação, sem o propósito de virar competição. Não pode haver uma cobrança por resultados, até porque, às vezes, não alcançar o resultado leva à frustração, e a pessoa acaba desistindo. Acho que o segredo é muito treino e dedicação, além de foco e determinação para atingir os resultados.

Campanha de Robert Scheidt na temporada 2014

Ouro na Copa Brasil – Niterói (BRA), janeiro
Prata na etapa de Miami Copa do Mundo de Vela – Miami (USA), fevereiro
9º na etapa de Palma de Mallorca da Copa do Mundo de Vela – Palma de Mallorca (ESP), abril
4º na etapa de Hyères da Copa do Mundo de Vela – Hyères (FRA), abril
Ouro na Semana Olímpica de Garda Trentino – Garda (ITA), maio
5º no Europeu de Vela – Split (CRO), junho
Ouro no Sudeste Brasileiro de Laser – Rio de Janeiro (BRA), julho
4º no Aquece Rio International Regatta – Rio de Janeiro (BRA), agosto
5º no Mundial de Vela da ISAF – Santander (ESP), setembro

Maior atleta olímpico brasileiro

Laser
Onze títulos mundiais – 1991 (juvenil), 1995, 1996, 1997, 2000, 2001, 2002*, 2004 e 2005 e 2013
*Em 2002, foram realizados, separadamente, o Mundial de Vela da Isaf e o Mundial de Laser, ambos vencidos por Robert Scheidt
Três medalhas olímpicas – ouro em Atlanta/1996 e Atenas/2004, prata em Sydney/2000

Star
Três títulos mundiais – 2007, 2011 e 2012*
*Além de Scheidt e Bruno Prada, só os italianos Agostino Straulino e Nicolo Rode venceram três mundiais velejando juntos, na história da classe
Duas medalhas olímpicas – prata em Pequim/2008 e bronze em Londres/2012

www.robertscheidt.com.br

Twitter: @robert_scheidt
Facebook: Robert Scheidt

Fotos: Thom Touw – Fred Hoffmann – Ivan Zedda – Lloyd Images

Por Amanda Kasecker

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