Especial HPE25 – Segunda parte: Amigos se unem e juntos, formam o embrião do que viria a ser a flotilha HPE de Ilhabela
Com fotos do Amarelinho debaixo do braço, Felipe Furquim visitou seis amigos de longa data, com os quais velejava na juventude. Todos já empresários e advogados bem-sucedidos, estavam afastados da vela. “Na visita, cheguei falando: ‘você acaba de comprar um barco!’ Mostrava as fotos, informava quando ia receber, o preço e concluía: ‘você vai ter que voltar a velejar’. Os seis toparam. Acreditaram no negócio”, conta Furquim.
Assim, os amigos Aloísio Christiansen, Amadeo Bardella, Renato Frankental, Amadeo Bueno, Fabio José Gonçalves e Tutinha Carvalho foram resgatados pelo HPE para, junto com Eduardo e Felipe, formarem o embrião do que viria a ser a flotilha HPE de Ilhabela, que chegaria a ter mais de 20 barcos em 2013. “Foi divertido porque começou todo mundo do zero, ninguém conhecia o barco, ninguém entendia como o barco velejava”, diz Felipe.
Bem, com o protótipo pronto e seis barcos vendidos, a estratégia agora era fazer o máximo para que os velejadores mais exigentes velejassem no barco afim de o avaliarem, destacando eventuais melhorias.
A tarefa foi cumprida a cabo pelo Eduardo Penido, que levou o barco ao Rio de Janeiro para que fosse testado pelos velejadores de lá, enquanto Cacau Peters não perdia uma oportunidade de embarcar velejadores de todos os naipes por aqui. Deu muito certo. Os formadores de opinião deram suas sugestões, as quais foram devidamente registradas e posteriormente incorporados ao protótipo para avaliação.
Protótipo testado e aperfeiçoado, veio a produção em série
Com o protótipo testado e aperfeiçoado, era chegada a hora da produção em série de barcos idênticos. No entanto, nenhum estaleiro quis fabricar o barco, questionando qual seria o volume e se iria vingar. Então, mais uma vez driblou-se as dificuldades com decisões inusitadas e ousadas. Eduardo de Souza Ramos decidiu fabricar o HPE num anexo da fábrica de automóveis da Mitsubishi, em Goiás.
E mais um amigo contribuiria para a realização do sonho. Luiz Rosenfeld, então diretor industrial da Mitsubishi Motors do Brasil, topou o desafio de produzir barcos numa fábrica de carros, a mais de mil quilômetros do mar.
Obcecado pela perfeição, Rosenfeld mergulhou fundo no HPE. Teve que dominar o então inovador método de infusão, adicionar novos conceitos na linha de montagem para construir 56 dos 62 barcos existentes. No inicio, construía na planta da Mitsubishi em Goiás, depois constituiu um estaleiro, Zonda Boats, em Indaiatuba, de onde saíam barcos exatamente iguais. Um dos méritos da classe, afinal, é o equilíbrio entre os barcos.
Estratégias bem elaboradas guiaram o HPS rumo ao sucesso
“Pesquisamos, pedimos instruções para muita gente, contamos com consultoria do Jorge Nasseh, e começamos a fazer os barcos na fábrica da Mitsubishi, 22 unidades”, conta Eduardo.
Para viabilizar o negócio, a Regatta mantinha dois barcos em estoque, enquanto Eduardo mantinha outros dois em produção. “Cada um entrou com a sua parte: um com a capacidade de produção e o outro com o conhecimento de mercado e as amizades para constituir as flotilhas. A Regatta foi muito dedicada”, acrescenta.
Se o HPE nasceu de um encontro fortuito num aeroporto, o acaso já não dirigia seu futuro. Estratégias bem elaboradas guiaram seus passos rumo ao sucesso.
Para divulgar o novo barco, em 2004 o Amarelinho ficou exposto durante a Semana de Vela de Ilhabela e colocado em lugar estratégico – na rampa que dá acesso a todos os barcos no píer. Não tinha como não vê-lo.
Nasce em Angra a segunda flotilha
Foi exatamente ali que despertou o interesse do carioca Roberto Martins, que ficou intrigado com sua aparência agressiva: “O barco era muito legal, planador, e vinha ao encontro do que eu desejava: um barco para me divertir”.
Como ele passava os fins de semana em Angra, comprou seu HPE em 2004 e decidiu levá-lo para lá, onde permaneceu por dois anos. “Uma das coisas que me impressionou é que o barco permite que pessoas mais velhas velejem com jovens com a mesma competitividade. Chegamos a ter cinco barcos em Angra e velejávamos todo final de semana”, contou Roberto.
Portanto, pelas mãos de Roberto Martins, nasceria a segunda flotilha, depois de Ilhabela, reunindo Celso Quintella, Roger Wright, Clínio de Freitas, Paulo Cesar Pimentel Duarte, entre outros nomes de expressão na vela carioca, que curtiam o HPE em Angra enquanto mantinham outros barcos de regata no Rio. Mais tarde, essa flotilha foi transferida para a Baía da Guanabara, onde chegaria a ter 23 barcos em 2020.
Mais amigos foram chegando
“O Eduardo Penido, grande amigo, ajudou muito. Dei a ele o desafio de emplacar a classe no Rio de Janeiro. O Roberto Martins também fomentou a classe entre os cariocas”, diz Felipe.
No espírito de união que norteia a classe, mais e mais amigos foram chegando. Por meio de Renato Frankenthal, então presidente da classe, Augusto Falletti foi convidado a experimentar o HPE25 em 2004. E foi um dos primeiros a se entusiasmar diante da novidade.
Afastado da vela, que havia trocado pelas corridas de carro – foi campeão paulista e chegou à Stock Car –, Faletti percebeu que os barcos que tinha experimentado até 1989 eram realmente coisas do passado: “Adorei o HPE, era um foguete e me deu imensa alegria”, lembra. “Comprei o barco número cinco, mas não gosto desse número, então troquei pelo seis. Tenho o HPE há 16 anos, nunca fiquei sem. Nesse período, só conheci gente bacana. É um barco totalmente friendly, técnico, rápido e as manobras são muito competitivas. O barco tem a capacidade de propiciar velejadas gostosas”.